domingo, 18 de maio de 2014

O melancólico último jogo de Garrincha um mês antes do adeus

Garrincha posou com o pessoal do Hotel Casarão, onde se hospedou em Planaltina (Foto: Reprodução da internet)

O Esporte Espetacular foi até o Distrito Federal conhecer os personagens que cercam o último jogo de Mané Garrincha. Já padecendo dos males do alcoolismo, o ex-ponteiro bicampeão do mundo foi ao Centro-Oeste brasileiro para jogar sua derradeira partida por um cachê de cerca de 800 dólares. O estádio Adonir Guimarães, em Planaltina, recebeu mais de 12 mil pessoas que viram o Anjo das pernas tortas ser apenas uma sombra do mítico ponta destruidor de defesas de outrora. Foi a última aparição de Mané em um gramado. Um mês depois, morreu sozinho em um hospital no Rio de Janeiro. (clique no vídeo e confira a reportagem completa)


O jogo foi organizado em prol de Garrincha por seu amigo Manoel Esperidião. Conhecido como Manoelzinho, o ex-atacante do América, organizou a partida-exibição para que Mané ganhasse um dinheiro e conhecesse melhor o futebol local, já que falava eventualmente em trabalhar como treinador na capital federal, o que acabaria não acontecendo.

A chegada de Garrincha ao aeroporto de Brasília mostrou que a fama do jogador ainda era grande. Torcedores e imprensa o aguardavam. O ex-jogador revelou que há muito não jogava futebol e deu a seguinte declaração ao ser perguntado se estava com muita vontade de bater uma bolinha:


- É... depois de quatro meses que eu não jogava futebol, né? Eu tive a obrigação de fazer uns exames rigorosos. Então, graças a Deus, foi tudo positivo. Quando o Manoelzinho me telefonava, eu dava uns piques no quarto para ver se estava bem. As pernas me doíam, né? Se (a bola) vier para perto de mim, vai sair alguma coisa! (risos) - afirmou o Mané.


Manoelzinho, que hoje é presidente da do Sindicato dos Atletas Profissionais de Brasília, guarda várias relíquias da partida como as camisas e chuteiras que Mané usou, além da súmula do jogo.


- Garrincha era um gênio! Eu liguei para ele e falei: "Tu quer vir?". Ele falou: "Vou, compadre!". Ele dizia que não bebia tanto, era o povo que falava demais, mas eu sabia que ele bebia, né? - conta Manoelzinho.

Recortes de jornais da época mostram a passagem de Garrincha pelo DF (Foto: Reprodução TV Globo)

A partida foi no Natal de 1982. Naquele 25 de dezembro, um sábado chuvoso, jogaram o time amador local do Londrina e uma Seleção da AGAP-DF (Associação Garantia ao Atleta Profissional). O jogador conhecido como 'Alegria do Povo' jogou com a camisa azul e branca do Londrina, uniforme similar ao seu homônimo paranaense, ficou em campo por 60 minutos e mesmo com a marcação frouxa pouco conseguiu fazer.

Marcelinho, da Agap, foi o último marcador do Mané. Ele conta que sabia que seu papel seria de coadjuvante na festa e lembra um pedido indiscreto de Manoelzinho.

- Ele fez um pedido por um pênalti. E ele falou: "Marcelo, faz um pênalti nele para ele fazer um gol!". Ele trouxe uma bola dominada e, nessa bola, ele vinha gingando. E era muito fácil poder tomar a bola, mas, aí, eu fiquei recuando, recuando e fazendo um pouco de cena com ele.

Marcelinho não teve coragem de fazer o pênalti. Restou, então, a última chance: falta para Mané cobrar, na entrada da área. No gol, Paulo Vítor, que viria a ser tricampeão estadual (83-84-85) e campeão brasileiro pelo Fluminense. (1984)

Ex-goleiro Paulo Vìtor jogou contra Garrincha no último amistoso que o ex-ponta direita jogou (Foto: Reprodução TV Globo)

- Eu estava passando férias em Brasília e recebi um convite do Manoelzinho. Lembro que algumas pessoas atrás do gol diziam: "Deixa passar, deixa passar", mas não tinha como deixar passar, foi muito em cima e veio devagar. Acabei defendendo. Logo em seguida, ele saiu do jogo. Para mim seria realmente uma honra se eu pudesse falar isso para ele. Bate aquela falta que eu deixaria você fazer o gol - recorda o ex-goleiro.

Manoelzinho se recorda que até brigou com Paulo Vítor por conta desse lance.

- Eu até discuti com Paulo, porque ele não deixou a bola entrar. Seria o último jogo e o último gol - lamentou Manoelzinho.

No fim, a Seleção da Agap venceu pela contagem mínima. Mané perdeu seu último jogo e menos de um mês depois, no dia 20 de janeiro de 1983, morreu. Muitos tentaram e não conseguiram, mas a cirrose, causada pelo álcool, parou o Anjo das pernas tortas.

FONTE: GLOBO ESPORTE

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