sábado, 11 de agosto de 2012

Os anos dourados do surf...devia ter passado aqui ontem!

Os anos dourados do surf...devia ter passado aqui ontem!

Quando foram os anos dourados do surf?

Eu suponho que tudo depende do momento em que você começou a surfar.
Para uns poucos sortudos foram os anos trinta, quarenta ou cinquenta.
No Brasil poderíamos dizer que os "anos dourados" do surf foram as décadas de 60 e 70.
No anos 60, os poucos surfistas que existiam, viviam embalados pela surf music, começando a desbravar o litoral num clima de camaradagem. Uma época ingênua e inesquecível para os que tiveram a oportunidade de vivê-la.


Nos anos 70 começou a rebeldia. A ditatura militar estava no seu auge e a contracultura marcava seu espaço no tempo.
Alguns jovens cabeludos, já contaminados pelo estilo de vida do surf, vagavam pelas praias sendo tachados de vagabundos e maconheiros.
Mas a vida de surfista era um sonho. A cada curva da estrada havia uma nova descoberta. Ondas sem crowd, praias desertas onde era possivel após o surf, acampar em volta de uma foqueira e passar a noite na praia sob o luar em lugares como Maresias, Itamambuca ou Itaúna.
Era um paraíso, mas tinha seus dias contados.
Quem viveu a época dos grandes festivais de surf em Ubatuba e Saquarema, do pier em Ipanema, dos meses de verão surfando as ondas da praia da Vila em Imbituba-SC, das ondas perfeitas de Imbinhoara no Ceará, da aventura que era chegar às praias do Litoral Norte de São Paulo e surfar sem crowd nenhum, das viagens de Kombi ao Sul da Bahia, sabe do que estou falando.


No final dos 70 e no decorrer da década de 80, as pranchas vão ficando cada vez menores, surgem as biquilhas, a explosão do surf hot dog e das competições.
Com a evolução dos equipamentos, das manobras e com as grandes empresas investindo pesado no esporte dos reis, o surf passou a ser mais do que um estilo de vida e acabou por se transformar em um bem de consumo para o mercado de massas.
Com as mudanças cada vez mais rápidas, vieram também o consumismo exagerado, as drogas pesadas, a especulação imobiliária nos melhores picos e a falta de vergonha na cara por parte de muitos que se diziam surfistas, fez com que o surf tomasse um rumo bem diferente daquele preconizado pelos pioneiros.
O outside de qualquer praia que tivesse ondas surfáveis acabara por se tornar uma arena, onde a disputa acirrada por reconhecimento e localismo agressivo imperavam.


Após alguns anos de surf frenético e de muita balada, alguns surfistas mais "cools" começaram a voltar às origens.
Uma tendência meio tímida no começo com alguns surfistas começando a usar pranchas com shapes antigos, estilo meio largado, criando uma maneira de pelo menos tentar voltar no tempo.
Hoje a explosão das modalidades Longboard e SUP e da tendência de se procurar points de surf cada mais longe em lugares de difícil acesso, mostra bem esse resgate.
Se no Brasil muita gente já se sente incomodada como as coisas estão, imagine na Califórnia (EUA), onde residem mais de 2 milhões de surfistas praticantes, muitos na faixa etária de 60 a 70 anos anos de idade.
Robert Fiegel, um longboarder californiano das antigas, nos relata abaixo as mudanças sentidas por ele nas últimas décadas:
"Meus anos dourados duraram até 1970, quando voltei para Malibu depois de dois anos vivendo em Maui, Hawaii.
Nessa época, a revolução das pranchinhas já tinha varrido a tradicional cultura do sul da Califórnia - uma cultura focada em diversão, desafio pessoal, prazer mútuo e respeito pelo meio ambiente costeiro.
Em apenas o que pareceram ser curtos anos, ela foi substituída por agressividade e por uma nova cultura mercenária que se focava na performance, competição, gratificação pessoal e cobiça. Mas acho que o mesmo poderia ser dito a respeito do resto da cultura do sul da Califórnia.

Eu me lembro de passar pelo pico Hollywood-by-the-Sea quando voltei de Maui, em 1970. Era um lugar onde eu tinha surfado muitas vezes quando ainda não estava na rota do crowd e era pouco conhecido. Agora tinha uma torre salva-vidas e um estacionamento completo, além de surfistas locais mal humorados que provavelmente ainda estavam no jardim de infância quando comecei a surfar ali. Por sorte, eu encontrei um velho colega que era um conhecido e admirado surfista. Ele fez questão de me apresentar a uns poucos surfistas locais. Depois eu entendi que meu carro provavelmente teria sido destruído se não fosse por isso.


Claro que havia um pouco dessa mentalidade localista no começo dos anos 60, especialmente em Topanga Beach, onde qualquer coisa acima da maré média-alta era propriedade privada, e os invasores eram ameaçados por uma justiça bem dura. Eu me lembro ainda de cruzar com um grupinho de locais em lugares como Windansea e Sunset Cliffs logo no começo, mas esse nível de hostilidade é bem maior do que havia experimentado antes - mesmo no North Shore.

Até aquela época, surfar era curtir um momento com alguns amigos e sair da água tendo acabado de sentir a mais pura vida. Disputar cada onda e ficar se vangloriando por aí como um nazista aprendiz, definitivamente não era minha ideia de definição de surfar. Eu fiquei aliviado quando um velho amigo (e antigo editor do Surfguide), Bill Cleary, sugeriu que colocássemos nossas pranchas no carro por um longo e preguiçoso percurso até a Costa Rica. Exceto por termos encontrado uns poucos surfistas detestáveis do Texas, foi uma ótima viagem. Quando chegamos em Malibu, carreguei meu VW e voltei para Costa Rica. Acabei vivendo lá pelo próximo ano ou coisa assim.

A Costa Rica era imaculada no começo dos anos 70 e, pelo que sei, alguns picos especiais não mudaram tudo isso desde então. Depois voltei para Malibu e vi quão crowd e poluída a Baía de Santa Mônica tinha se tornado na minha ausência. Comecei então a pensar em me mudar de novo. Bill Cleary tinha pensamentos semelhantes, então sentamos com um bando de mapas para planejar um safari "Downunder". A ideia era visitar alguns velhos amigos de Topanga Beach (Doug e Reva Meredith e seus filhos),na Nova Zelândia, e então atravessar a "trincheira" e ir a OZ para um surf sério. Destino final, Austrália Ocidental.


Uma vez na Nova Zelândia, no entanto, eu me senti como quando cheguei em Maui em 1968, como se eu tivesse finalmente chegado em casa. Então saquei o dinheiro da minha passagem PanAm para a perna australiana e, exceto por um curto período em Maui, eu tenho vivido aqui em Aotearoa desde então. Como o surfista Kiwi, Michael Fitzharris, disse quando eu o entrevistei para um artigo sobre a ressurreição do longboard na Nova Zelândia em Pacific Longboarder, "não é tanto que a diversão de surfar se foi com a revolução das pranchinhas, é que era muito mais difícil se divertir daquele jeito". Também era mais difícil entrar em uma onda, era mais difícil balancear prioridades de mudanças e era mais difícil competir com surfistas hostis, cada vez mais novos, que pareciam pensar que eles inventaram o surf e que eram donos de todas as ondas.


Eu não acho que eu seja o único surfista a dar as boas vindas para a ressurreição dos anos dourados, e agora que 60% de todas as vendas de pranchas de surf nos Estados Unidos são pranchões, parece que pranchas de todos os tipos e tamanhos (e seus donos) têm dividido mais e mais ondas".

No Brasil, apesar de tudo, muita gente também está procurando resgatar e viver a verdadeira raíz do surf.
Estão falando que Surf é religião. Eu acredito nisso! Se "Deus" se expressa através da natureza, do amor e da gratidão, então o Surf é tudo de bom.
Surfar nos faz sentir alegria, felicidade e uma satisfação incomparável ao deslizar sobre as ondas, criando um clima de entrosamento mágico com a energia universal.
Quem nunca fez um ondinha show e voltou ao outside com um sorriso até a orelha?
Quem nunca agradeceu aos céus pelo fim de tarde de gala?
Essa sensação não tem preço, não há stress que resista!
Mais cedo ou mais tarde, você também irá botar o pé no freio e vai rir sozinho ao deslizar nas ondas em companhia de seus filhos ou de seus melhores amigos sentindo o verdaderio felling do surf.

FONTE : Alberto Burguete - Surf Repórter

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