quarta-feira, 20 de junho de 2012

Pressão nas Categorias de Base do Futebol


O esporte juvenil vem sendo tratado como esporte de “mini-profissionais”, exigindo-se cada vez mais a perfeição. Além disso, indivíduos dessa categoria vêm sofrendo transformações físicas e psicológicas decorrentes da própria idade. Portanto, esse grupo possui grande vulnerabilidade frente ao estresse.

Pequenos boleiros sofrem com a pressão familiar para vingar no futebol. Situação leva adolescentes a uma precoce frustração profissional
As brincadeiras da garotada que se prepara para mais um dia de treinamento puxado em clubes escondem uma dura realidade dos gramados: a extinção do que um dia fez do Brasil o país do futebol. 

O jeito “irresponsável” de jogar bola e a alegria, a passos largos, estão dando lugar a uma pressão incomum para quem ainda tem um corpo de menino, mas foi alçado antecipadamente à vida adulta. O futebol passou a ser questão de sobrevivência.

 

Influência da família, expectativas financeiras e casos de di­­fi­­culdades sócio econômicas são al­­guns pontos citados como principais fatores para uma criança ou adolescente levar nas costas o peso de uma família inteira. Um detalhe que atualmente não é exceção, mas regra, e pode causar danos imensuráveis ao indivíduo.

Em meados da década de 90, uma dona de casa estadunidense chamada Susan Casey se candidatou a um cargo similar ao de vereador que temos no Brasil. Para conquistar votos, utilizou o slogan “a soccer mom for city council”, algo que traduzido literalmente pode ser entendido como “uma mãe do futebol para a Câmara”. O termo “soccer mom” popularizou-se nos Estados Unidos após a copa de 94, para designar as mulheres de classe média-alta que não trabalhavam e acompanhavam seus filhos nos jogos de futebol, em ascensão no país. 

Obviamente, por não ser mesmo hoje um esporte de ponta por lá, não se pode dizer que os “soccer sons” sofriam com a pressão exacerbada pela vitória em um simples campeonato escolar a ponto de não quererem mais competir, mas este é um bom exemplo de como os pais, na ânsia e sob o argumento de estimularem seus filhos a praticarem um esporte, muitas vezes acabam mais atrapalhando que ajudando. 



Quando abordamos os diversos motivos pelos quais um garoto não consegue atravessar o caminho pelas categorias de base e chegar ao profissional, precisa sim ser considerada a forma com que as pessoas que estão ao seu redor influenciam o processo de aprendizagem e treinamento. É também papel do treinador observar e dosar as (na maioria das vezes exageradas) expectativas que os pais e/ou responsáveis depositam sobre os pequenos jogadores.

É compreensível que, em muitos casos, dependa do sucesso do menino o futuro da família. Tão importante quanto vencer as barreiras e tornar-se um profissional, entretanto, é prepará-lo para a possibilidade da falha, da não-concretização do sonho de uma vida – que, é bom lembrar, às vezes é um sonho mais dos pais que do próprio filho.

Esta pressão encontra seu nível máximo de concentração durante as competições, já que é nelas em que reside a chance de fazer-se notar aos observadores de plantão. Isso sem contar os prêmios de melhor jogador, melhor goleiro, melhor artilheiro, que incitam a individualidade e o egocentrismo desde cedo. Assim, os pais pressionam muito os jovens jogadores, exigindo, mesmo que inconscientemente, que eles estejam na equipe campeã e, além disso, sejam o destaque.

 
 
O problema é que exatamente quem deveria filtrar esta carga negativa acaba potencializando-a. No Brasil, a maioria dos treinadores de futebol de base possue ainda uma formação apenas prática, pouco ou nada acadêmica, impedindo-os de aplicar um programa de treinamento adequado às necessidades específicas daquela faixa etária, com o trabalho pedagógico indicado para ensinar um garoto a jogar futebol, a lapidar uma pedra bruta.

A cultura do ex-jogador identificado com o clube ainda reina em muitos lugares, e a dita experiência acaba por repetir velhos erros, já que o veterano atleta também não teve a formação adequada lá atrás, criando uma verdadeira “escola da boleiragem”. Por isto, é comum ver meninos de campeonatos sub-17 e até sub-15 cavando faltas, puxando sorrateiramente a camisa dos adversários e, longe das quatro linhas, usando roupas de marca e acessórios eletrônicos que conferem ao adolescente o rótulo de “marrento” já na base. O comportamento de pais e treinadores é extremamente prejudicial e importante neste processo, pois encaram tal postura como normal, uma vez que para eles o filho é especial, um futuro craque que não pode ser repreendido.


Tanto é verdade que, em qualquer campeonato estadual de base, é normal ver a presença dos familiares nos jogos, gritando frases de apoio aos meninos e devolvendo insultos caso o garoto seja vaiado por uma jogada errada. O comportamento das arquibancadas reflete muito no desempenho do pequeno jogador, aumentando sua ansiedade e nervosismo e, consequentemente, diminuindo suas chances de sucesso nas divididas ou chutes a gol.
Assim, é fundamental a conscientização de pais e uma melhor formação dos professores/treinadores, aplicando conceitos da psicologia esportiva na formação dos atletas. O lado emocional do jogador, a chamada motivação, é tão importante quanto chutar forte, cabecear bem ou driblar com rapidez.

Para isto, é preciso que os clubes percebam o quão fundamental é o papel da psicologia no trabalho do dia-a-dia, assim como a graduação acadêmica em Educação Física, quase um requisito mínimo hoje. Porque antes de produzir bons jogadores para o time profissional, é também função da categoria de base desenvolver o caráter do homem ainda em formação – e imprescindível que os pais entendam isso.

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