sexta-feira, 15 de junho de 2012

Gary Linden, o pai do circuito mundial das ondas gigantes

Gary com sua gun
Fotos: Arquivo pessoal

Uma simpatia de pessoa e um exemplo de força de vontade, determinação e coragem. Em poucas palavras, é assim que se pode definir Gary Linden, o idealizador do circuito mundial de ondas grandes. Mas Linden não é uma pessoa que valha a pena ser resumida em poucas palavras. Com quase 61 anos de histórias para contar, o americano cativa com seu português bem falado e sua paixão pelas ondas grandes.

Pioneiro na modalidade, Linden surfa há 49 anos. A primeira bomba que dropou foi em El Salvador, no México, e desde então não parou mais. Na busca pelas maiores, Gary chegou a vir morar no Brasil em um dos poucos picos onde poderia encontrá-las no país. Na década de 70 se estabeleceu em Saquarema, Rio de Janeiro, e por lá ficou um tempo. Até hoje, o big rider é proprietário de uma casa na cidade carioca. Seu sonho é voltar a morar nela durante o inverno para surfar as bombas do hemisfério sul.

Depois de passar anos surfando ondas grandes por amor, Gary decidiu que era hora de organizar as coisas.

Ele idealizou e montou o circuito mundial da modalidade, o Big Wave World Tour (BWWT).
Para muitos, criar o tour poderia parecer que Gary já estivesse se preparando para se aposentar da prática do big surf. Estavam todos enganados. Ele continua surfando e botando para baixo de bombas impessionantes. Diz que seu corpo ainda não o impede e a força da mente é o que lhe permite.

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Com quase 61 anos, como você se sente podendo ainda surfar ondas gigante?

Eu sou o homem mais feliz do mundo. Eu ainda me sinto bem. Meu corpo ainda está ótimo. E uma questão de força mental, eu acho. Se você quiser surfar, tiver o desejo forte de continuar fazendo isso, você consegue. Eu sou muito feliz. Muito, muito feliz mesmo.

Qual foi a sua motivação para organizar um tour mundial de ondas grandes e quais foram as implicações?

Minha motivação foi organizar a modalidade e dar aos novos surfistas uma oportunidade mostrar o talento deles e de superar os limites.

E também porque eles precisam ter uma maneira de se sustentar fazendo isso. Tradicionalmente, os surfistas mais velhos vem fazendo isso por puro amor.
Dos surfistas novos, alguns põe mais energia em competições da ASP, mas outros só querem surfar ondas grandes. Como o Greg Long, que só quer surfar ondas grandes.
Então o big surf precisa de uma organização, e eu usei minha paixão e eu amor por surfar ondas grandes para levar isso à frente e criar o tour.



Você acha que se o circuito crescer muito, a essencia de amizade que existe nas competições pode se perder?

Eu acho que não, pois pouca gente entra no campeonato de cada vez, são 24 pessoas. É tão perigoso que a amizade é necessária, mas quando eles estão competindo todos querem ganhar. A segurança das pessoas sempre está em primeiro lugar, em segundo é ganhar.

Então eu acho que não vai perder muito. Claro que dinheiro estraga algumas coisas, mas esse é o bom de surfar onda grande, a gente vai surfá-las se tiver dinheiro ou se não tiver. E só por dinheiro o cara não vai entrar em uma competição dessas. Ele entra por paixão, se tiver dinheiro, tudo bem, mas se não tiver, tudo bem também.

O Carlos Burle é o nosso orgulho. Não temos um campeão da ASP, mas agora temos o Burle. O que você acha dele e do big surfe brasileiro?

O Burle é um campeão, em todos os sentidos. Ele é profissional, surfa ondas grandes melhor do que todo mundo. Mas quem também está entrando forte é um surfista de Saquarema chamado Marcos Monteiro. No ano passado ele chegou na final no Chile, este ano ele também fez final no Peru e no Oregon (Nelscott) ele chegou até a semifinal. Então eu acho que ele tem uma boa chance de se dar bem no tour.

Com a suposta aposentadoria do Kelly Slater do WT, você acha que pode começar a correr o BWWT?

Ele foi convidado para Mavericks, o próximo evento do tour. O mais difícil é ser convidado, agora que ele foi, vamos ver se ele vai.
Eu estou deixando ele decidir sem pressão. Porque todo mundo quer ele, eu quero ver se ele quer. Se ele quiser será bem-vindo, se ele não quiser tudo bem. Mas acho que ele vai querer, porque além dele ser o melhor surfista de ondas pequenas, ele também um dos melhores de ondas grandes. Ele quer provar isso, eu acho.


Há previsão para realizar novas etapas no ano que vem?
A gente tá querendo que o Danges Capetown (na África do Sul) entre de volta. Estamos conversando com eles para ver se ele voltam. Nos queremos ter seis eventos no tour, três no hemisfério sul e três no norte. Porque são dois meses de janela de espera. Mas tem outras mudanças na parada. Queremos ter um evento de classificação, mais um evento... Tudo vai depender do dinheiro que entra para patrocinar e as nocessidades do tour.

O formato do circuito tem se mostrado de grande sucesso. Todos os eventos rolaram e com boas ondas. Você tem algum plano de mudar algo no formato?
Eu acho que uma coisa que todo mundo procura num esporte em geral é que as pessoas comuns entendam. Por isso tem que ter constância. porque se você sempre está mudando as coisas, alguém que não entende o surf, não vai entender o circuito.
Então, por enquanto, a coisa está funcionando e não temos planos de mudar.

Eu acho que o problema do surf geral é os caras que sempre estão mudando. Funciona de uma maneira por dois anos, e depois muda. Ninguém entende nada. Eu acho que tem que deixar as coisas bem fáceis. Para que mesmo quem não entenda do esporte, entenda o campeonato. O cara que pegar a maior onda ganha, porque assim as pessoas entendem. Se não o cara que está assistindo não se sente parte da coisa.

O que signicou a morte do tricampeão Andy Irons para você e para o circuito?
Andy era um ótimo surfista e que sempre mostrou que tem habilidade em todos os tipos de onda. Eu vou sentir muita falta dele, por ele não estar mais aqui conosco. Uma pena que ele não vai entrar para uma próxima fase de competição, porque eu sei que ele ia se dar bem.

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Gary Linden surfando em Todos os Santos, na Califórnia.
Crédito das imagens: Arquivo Pessoal
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Gary não se intimida.
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Tomar uma bomba dessas na cabeça já é difícil para um jovem de 20 e poucos anos, imagina para um cara de 60.

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